terça-feira, 21 de abril de 2009

Pascoela na Estação do Tua

A Visita Pascal

Vivendo num mundo cada vez mais laicizado, assisti, com surpresa, no Domingo de Pascoela, à passagem do compasso, ou comitiva de visita pascal, pela estação de comboio do Tua.
A visita pascal é uma festa católica de anúncio da Ressurreição do Senhor às famílias visitadas. Durante a cerimónia procede-se à bênção da casa, exorta-se à paz na família e dá-se a beijar a cruz de Cristo crucificado.

O costume tem lugar no Domingo de Páscoa, na Segunda-feira de Páscoa ou no Domingo de Pascoela. Na minha aldeia, tal como no Tua, a visita pascal é feita na Pascoela, Domingo a seguir à Pascoa. Pascoela significa Páscoa pequena e simboliza o prolongamento, por oito dias, da festa de Ressurreição do Senhor.



Tradicionalmente, o compasso é composto por cinco pessoas. Além do padre, com suas vestes festivas, um rapazito segue à frente a tilintar a campainha, anunciando a aproximação do cortejo; um mordomo, de opa vermelha, transporta a cruz; um leigo leva a caldeira da água benta e outro recebe o “folar” ou donativo.




Neste compasso só havia quatro elementos e, à falta de padres, eram todos leigos. Já tinham estado noutras aldeias e na vila de Carrazeda de Ansiães, de acordo com uma senhora que ia apanhar o comboio para o Porto.



Visita pascal à casa dos proprietários do restaurante junto à estação.
Geralmente, as famílias que desejam a visita pascal abrem a porta ou ficam à espera da comitiva. Noutros tempos, quando não havia aspiradores nem enceradoras, para receber o Senhor, a Páscoa era a altura da lavagem anual do soalho e de enfeitar a casa com flores, incluindo alecrim e rosmaninho. A mesa da sala, à volta da qual ficam familiares e amigos, é coberta com a melhor toalha. Depois da bênção, do beijar da cruz, de ter sido oferecido o folar e de o padre ter cumprimentado os familiares e amigos, são servidos doces da época, comidas e bebidas. Nas casas mais "ricas" a demora do compasso geralmente é maior.


Na estação do Tua houve quem beijasse a cruz mas há quem apenas faça a vénia. Na aldeia de adopção, onde passo parte da minha vida, as portas estão a fechar-se à visita pascal mas noutras paragens, incluindo cidades, às vezes, à mistura com interesses bairristas, culturais ou económicos, são leigos que estão a recuperar este velho costume.

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