domingo, 23 de outubro de 2011

Festa da Castanha em Vinhais

Castanea Rural abre a temporada

Vinhais, capital do fumeiro, está a dar início,  este fim de semana, de 21 a 23 de outubro, às festas da colheita da castanha em Trás-os-Montes.


À Rural Castanea, em Vinhais, seguir-se-ão, nos próximos fins de semana, a Norcastanha em Bragança e a Castmonte em Carrazeda de Montenegro, entre outras.



A festa da castanha atrai todos os anos dezenas de feirantes à vila, espalhados ao longo de estrada nacional que atravessa Vinhais.

A feira, embora com previsão de chuva para domingo, está a decorrer  com tempo ensolarado, deixando expositores de roupa de caça e pesca temerosos de menor volume de vendas.





Apesar de haver menos castanha, o preço, por quilograma, 1,8 euros,  é inferior ao do ano anterior.


!





O maior assador de castanhas do mundo
Vinhais orgulha-se de ter o Guiness desde 2007!














Chegódromo









terça-feira, 18 de outubro de 2011

Mogadouro e os Gorazes

Coleta fiscal em carne marrã!


Da única vez que visitei Mogadouro, guardava da vila a vaga imagem de uma desolada torre de castelo, em ruínas.





Regressei lá no passado fim de semana, aquando da Feira dos Gorazes, disposto a ficar esclarecido da razão pela qual tem esse nome.  Sendo goraz nome de peixe porque haveria uma feira, de vila distante do mar, ter nome alusivo a um peixe?  Não fazia sentido! Pelo sim, pelo não, ia a Mogadouro disposto a desvendar o enigma do nome da feira!




Antes de ir à feira,  passei pelo castelo onde, desta vez,  o encontrei remodelado, assim como ao espaço envolvente. Nos acessos havia obras.





Nas proximidades do castelo, moradoras idosas não me souberam explicar o significado do nome da feira.



Oratório a São Sebastião edificado pelos Távoras

Mas numa pastelaria do centro da vila, um jovem, parente do proprietário, tentou elucidar-me, relacionando o nome da feira com carne marrã, nome que em Trás-os-Montes, antigamente, se dava à carne de porco. 





Antes da chegada do costume de se comer posta de vitela assada na brasa e da moda do frango assado, era tradição, nos Gorazes, comer-se entremeada de porco.



Insatisfeito com a explicação, Vítor, nome do jovem, deu-me a ler, então,  o texto de  um website onde o historiador  António Mourinho afirma que na Idade Média se usava o termo grego gorax para designar a carne marrã.  Portanto, - eureka - a chave do enigma para a origem do nome da feira está relacionada com carne de porco, ou seja, com gorax.


A carne marrã, ou gorax, era dada, por moradores e feirantes, em pagamento do imposto anual, ao senhorio de Mogdouro - Santa Casa de Misericórdia, após os Távoras terem caído em desgraça - cujos fiscais, ainda em 1768, apareciam nos dias da feira para fazer a coleta em espécie. É desse costume de cobrança do imposto em gorax - ou gorazil, "(...) huma espadoa de porco, a saber, todo o quarto dianteiro com doze costas (...)"  - que terá vindo o nome Feira dos Gorazes!


 
Se antigamente a Feira dos Gorazes era uma feira de fim de colheitas, onde os lavradores vendiam os seus produtos e compravam provisões para o inverno; se era uma feira onde se bebia um copo de vinho e comia a coiracha da marrã num naco de pão, hoje transformou-se numa feira de comércio geral, havendo um palco para espetáculos musicais e pavilhões para expositores. Embora tenha passado pelas alfaias  agrícolas e stands de comerciantes, centrei a atenção  nas barracas de artesanato e de gastronomia.




Quis pagar o meu imposto à tradição e fui ao restaurante Nossa Senhora do Caminho, o único dentro do recinto,  para provar a carne marrã, tradicional da feira. Não apreciei. Duas entremeadas, demasiado salgadas, servidas com batatas fritas, custaram sete euros. A salada de alface foi um suplemento que pedi. Também não correu bem  o negócio com a desonesta queijeira de Bruçó que, se não fosse a ameaça de chamar a guarda, ficava-me com o troco de dez euros. A Câmara de Mogadouro deveria estar atenta a estas práticas que lançam a desconfiança nos consumidores e mancham o bom nome da feira.




A conversa com o Vitor prolongou-se, enquanto ia matando a sede. Até deu para perguntar-lhe pelo Maurício, dentista brasileiro, residente em Mogadouro que ficou conhecido graças à sua participação num programa do Big Brother. O jovem é guitarrista  do agrupamento musical mogadourense Rumo Nordeste, tendo atuado na palco da feira na noite anterior.




Trindade Coelho,  sentado num pedestal, no largo em frente à pastelaria do guitarrista internauta, descontraído, parece estar a narrar um conto da sua obra  Os Meus Amores.  O  mais ilustre filho da terra  suicidou-se em Lisboa, em 1908, aos 47 anos.



Mogadouro tem, anexa ao convento de São Francisco, uma bela igreja maneirista, edificada a partir de 1620, a expensas de D. Luis Álvares, fidalgo da família dos Távoras, senhores de Mogadouro, entre o século XV e a caída da família em desgraça, em 1758, acusada pelo Marquês de Pombal de atentar contra a vida do do rei Dom José I. O convento, edificado no século XV - ou nos séculos XVI e XVII, como aparece noutros sítios? - está ocupado pela Câmara Municipal mas já serviu de quartel desde que Joaquim António de Aguiar,  um liberal jacobino, extinguiu, em 1834, as ordens religiosas e incorporou o convento dos frades franciscanos no património do Estado.


 O espaço envolvente à igreja e ao antigo convento está arborizado, relvado e decorado com paineis de ferro que contam a história da vila. O conjunto, em simbiose com  os edifícios em granito, é harmonioso.



Igreja matriz, junto ao castelo, mandada edificar pela família dos Távoras, no século XVI. A torre sineira quadrangular é um acrescento do século XVII.



Torre do Relógio, no castelo



 Igreja matriz e panorâmica da vila, vista do castelo


Bonita rotunda da nova Mogadouro. A pacata vila impressiona pela positiva o viandante!



terça-feira, 11 de outubro de 2011

Tempo de Vindimas

Passeio pelo Douro vinhateiro


A época das vindimas é a melhor ocasião para uma visita à Região Demarcada do Vinho do Porto.


A azáfama  das vindimas dá outra vida à região.

Típicas vinhas em socalco

'O Doiro necessita de ser finalmente olhado pela nação como o seu olimpo sagrado, o chão bendito que produz a única riqueza de que somos senhores exclusivos: o Porto, que o mundo assim conhece e saboreia, imita em todas as latitudes sem nunca a igualar. Mas esse carinho pátrio tem de começar pelo obreiro do prodígio, pelo oficiante de mãos calosas que espreme os xistos até os fazer ressumar'.

Miguel Torga

Carinho pátrio não sentido pelos viticultores, diante da Casa do Douro, pedindo garantias de escoamento do vinho e melhores preços à produção.



Peso da Régua, onde começa o passeio,  é um exemplo de mau ordenamento do território praticado pelo poder municipal. Que mais-valia pode trazer à cidade o mamarracho erguido ao lado da bonita igreja, junto à estação?  Infelizmente este caso de atentado ao ambiente e ao património edificado não é singular.  Houve autarcas que não souberam conciliar progresso com desenvolvimento sustentado.




Vários espaços públicos da Régua estão decorados com bonitos paineis de azulejos azuis, brancos e amarelos, que retratam a faina das vindimas, cultura da vinha, lagaradas e o transporte do vinho do Porto nos barcos rabelos.



Entre Margens
Exposições de fotografia no espaço público em Vila Real, Lamego, Régua, Mirandela, Santa Marta de Penaguião e Porto. Homenagem a todas as mulheres que estão ligadas à vinha no Douro, como  a Ferreirinha.




Dona Maria Antónia Adelaide Ferreira,  grande produtora de vinho do Porto, no século XVIII,  e personagem celebrizada no cinema, é este ano homenageada pelo Museu do Douro com uma exposição comemorativa do bicentário do seu nascimento.



Porto da Régua
A cidade e o Pinhão são os dois principais centros da região demarcada e os principais polos turísticos dos cruzeiros no Douro.


Auto-estrada A24 sobre o Douro

Ponte metálica de Peso da Régua em restauro. Uma mais valia para a cidade.

Barragem de Bagaúste
Barco de turismo na comporta,  à espera que o gigantesco tanque de água esvazie. Fica atracado, preso por cordas, para não ser puxado pela corrente. 


Passagem pela comporta.
O barco retomou a navegação quando o nível da água do tanque igualou o do leito do rio, na base da barragem. Em sentido inverso, o barco maior, para subir o Douro, primeiro deve entrar no tanque vazio e esperar que comece a encher-se, depois de fechada a comporta a jusante e aberta a que está a montante. Assim que a água do tanque ficar ao nível da do rio, o barco retoma a navegação.  Com este sistema de comportas, o Douro é navegável até Espanha, por barcos que não ultrapassem determinado calado.


A estrada que vai da Régua ao Pinhão é uma estrada panorâmica, das mais belas de Portugal. Gosto de fazê-la no sentido inverso, ao lado do rio, admirando os vinhedos nas encostas.


Esplanada em Folgosa do Douro
Covelinhas fica na outra margem. Neste Eden abrasador, refrescado pela água do rio, relembro-me do diálogo de "A Cidade e as Serras" entre Zé Fernandes e o amigo Jacinto, à chegada a Portugal, pela Linha do Douro.  -Acorda, homem, que estás na tua terra! Rodeado de serras, Jacinto não regressou mais a Paris. Com tanta beleza, a quem apetecia partir para a "civilização"?


Prova de vinho
Atraído pela publicidade entrei na Quinta das Carvalhas onde, além de ter provado um cálice de vinho do porto tawny, reserva de 10 anos, fiquei a saber que tanto o tawny como o ruby são vinhos feitos com as mesmas castas de uvas. Distinguem-se um do outro pelo facto de o ruby  ser envelhecido em pipas pequenas e o tawny em pipas grandes. O ruby, de cor vermelha, - rubi -  deve ser consumido nos primeiros cinco anos, ao contrário do tawny que, envelhecido durante mais tempo, apresenta tonalidade menos escura e tem sabor a frutos secos.


Comboio do Douro
A linha ainda é a mesma que no século XIX  levou Jacinto a Tormes. Mas o comboio, esse,  já não é o que faz pouca terra, pouca terra!  O amarelinho,  noutro tempo e noutro ritmo, percorre, ligeirinho, o que sobra da linha de Barca de Alva ao Porto. Com ele viaja a nossa imaginação!




Pinhão à vista



Cais fluvial e ponte rodoviária



Estação do Pinhão
Ex-libris da vila


A estação do Pinhão, decorada com painéis de azulejos, alusivos à tematica vinhateira,  é uma das  mais lindas estações de comboio de Portugal.


Cais do Pinhão
Exceptuando a estação e a zona adjacente ao cais, que mais há para visitar na vila? 


Acabadinho de pescar!
Com a rede bem guarnecida de peixes, pode dizer-se que a pescaria foi boa! Mas hoje não deu para petiscar peixe do rio; fica para outra visita ao Douro!
De regresso à montanha
Na volta do passeio  pelo Douro vinhateiro passei por Provezende, Celeirós, Vilarinho de São Romão e Sabrosa. Paisagens soberbas, de cortar a respiração. 

Como é lindo este meu Trás-os-Montes e Alto-Douro! Espero que com a futura divisão administrativa, a "província" não seja rachada em duas, subtraída da parte sul, como parece pretender Vila Real, nem fique diluída numa  artificial Região Norte, como pretendem centralistas do Porto! Não concebo a minha identidade sem ser transmontano de Barroso a Freixo-de-Espada-à-Cinta, e do Marão a Mirando do Douro!