À Senhora da Conceição
Codeçais, pertencente à freguesia de Pereiros, é uma aldeia presépio, escondida numa íngreme encosta que desce dos montes de Carrazêda de Ansiães, para o vale do Rio Tua. O seu orago é, nada mais, nada menos que Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal, desde 1646, por ação de D. João IV.
A proclamação de Nossa Senhora da Conceição como Padroeira de Portugal, na sequência das guerras de Restauração da Independência, transformou-a, no plano simbólico, na Soberana de Portugal, não voltando nenhum rei a ostentar a coroa, direito que passou a pertencer apenas à Excelsa Rainha, Mãe de Deus.
Carrapitos que inspiram a pintura de Graça Morais
A festa da padroeira da aldeia foi no dia 8 de dezembro, dia santo e feriado nacional, instituído em 1948, para celebrar a Imaculada Conceição.
Cruzeiro do Senhor dos Aflictos, anno d 1863
Soube da festa, por voz amiga. Numa altura em que se especula sobre a abolição de feriados, como remédio milagreiro para aumentar a produtividade de empresas que teimam em não se modernizar, não quis perder a oportunidade de estar presente na festa religiosa da povoação.
Antes da procissão, percorri a aldeia. Fez-me pena ver, numa casa desabitada, no Largo do Cruzeiro, uma parreira repleta de uvas, brancas e doces, a estragarem-se. Por outro lado, fiquei admirado com o civismo dos habitantes pois, embora as uvas estejam ao alcance de uma mão, ninguém toca naquilo que não é seu.
Na porta de um dos baixos dessa casa, aparece a sigla FRS - Frente Republicana e Socialista, coligação de partidos, liderada pelo PS, tendo em vista as eleições legislativas de 1980, ganhas pela AD - Aliança Democrática. Espreitando o interior, ainda se vê, numa parede, uma pintura do símbolo do MFA - Movimento das Forças Armadas.
Apesar de haver casas mal conservadas, o conjunto do património edificado, restaurado e novo, agradou-me. Codeçais, com suas ruelas bem calcetadas e montes cobertos de neblina, é uma bonita aldeia de montanha.
Varandas engalanadas com colchas, para a passagem da procissão, como manda a tradição.
Propaganda à AD e à FRS, no mesmo espaço, indicia que a aldeia não deve ter ficado imune ao combate partidário, entre esquerda e direita, há décadas atrás!
Pendão de Nossa Senhora da Conceição
Festejar Nossa Senhora da Conceição não é o mesmo que celebrar a Imaculada Conceição! As festas em honra de Nossa Senhora da Conceição ou Concepção, são festas de cariz popular, anteriores à instituição, em 1854, pelo Papa, do dogma da Imaculada Conceição.
Essas antigas festas religiosas celebravam a maternidade de Maria, mãe de Jesus, enquanto que as festas à Imaculada Conceição celebram a castidade, porque segundo o dogma, Nossa Senhora, concebida por obra divina, tal como Jesus, nasceu pura, sem a mácula pecaminosa da cópula carnal de seus pais, Ana e Joaquim.
O Dia da Mãe, antes de ser transferido, por razões comerciais, para o primeiro domingo de maio, era comemorado no dia de Nossa Senhora da Conceição, por, justamente, celebrar a maternidade.
A Procissão
A capela de Nossa Senhora da Conceição, situada no alto da aldeia, ficou apinhada de fiéis, para assistirem à missa, marcada pelos cânticos de um grupo de homens e mulheres, bem ensaiados.
ANNO D 1826 - Inscrição num degrau da escadaria da capela
A procissão, após a missa, saiu da capela e deu a volta ao povo, incluindo ao Bairro Novo, situado na estrada que vai para a Brunheda e para a estação de comboio. Um dos movimentos cívicos que se formaram, para defesa da Linha do Tua, nasceu em Codeçais, cuja população está a ser afetada na sua mobilidade, desde que a linha foi desativada, em agosto de 2008, na sequência de um descarrilamento e não ter sido reaberta, devido às obras de construção de uma barragem, junto à foz do Rio Tua.
Andor da padroeira, protetora da aldeia.
Notas, muitas notas de cem, cinquenta, vinte e dez euros. Segundo Jorge Delfim, as ofertas do andor de Nossa Senhora renderam 2.850 euros. Cobrir os andores com notas e exibi-las é uma prática que se preserva em localidades mais tradicionalistas. As festas religiosas são também um espaço de relações sociais. Nas comunidades rurais, o valor da oferta evidencia o poder económico de quem faz a promessa. Um donativo elevado pode dar ao ofertante um retorno simbólico, traduzido em acrescido prestígio social.
Andores de Santa Eufémia, mártir, e de Santo António. As ofertas destes andores não chegaram a 100 euros.
Vinhas de Codeçais.
A aldeia fica na Região Demarcada do Vinho do Porto, havendo por isso, produtores de vinho licoroso. Contudo, apesar da fama do produto, não parece que o setor esteja satisfeito com a política setorial, a julgar pelas recentes reclamações de vitivinicultores, junto à Casa do Douro, na Régua.
Estava de ver passar a procissão mas assustou-se com a máquina fotográfica!
Regresso à capela. Estranhei a procissão não ser acompanhada por uma banda mas, sem pensar duas vezes, julgo que a sua contratação não estará ao alcance financeiro de uma pequena comunidade rural.
À procissão, além da participação dos residentes, foram pessoas dos Pereiros e de outras aldeias vizinhas. Naturais da povoação, residentes nos centros urbanos do litoral, também foram à terra, para participar numa festa que não querem deixar morrer.
Foi de véu à igreja e da janela de sua casa, atirou pétalas ao andor de Nossa Senhora da Conceição. Hoje, salvo raras exceções, não se usa o véu em cerimónias religiosas; no entanto, antes do Concílio Vaticano II, era obrigatório o seu uso, para as senhoras entrarem nas igrejas. A norma do ritual impunha que as casadas usassem véu preto e as solteiras, branco. No contexto de um ritual religioso, acho que uma senhora fica bem de véu. Não fica?
Esperando pelo leilão...
Uma criança!
Transmontanismos...
"Fazendo contas à vida..."
Leilão
Muito concorrido este leilão!
Pão leiloado por 42 euros!
Em casa de amigo - conhecimento nascido na defesa da Linha do Tua - antes de regresso a Chaves, debaixo de cerrado nevoeiro.
1 comentário:
Adorei todas as fotografias,mas como não podia de ser a minha gatinha mimi estava lindissima,parabéns pelo teu trabalho.
Armanda
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